segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Pontas Soltas III

- Então e depois?

- Depois?

- Sim, depois... depois de atingires o teu objectivo? O que vem depois?

David recostou-se na almofada, apoiando nela o cotovelo e, na mão, a cabeça. Fixou Mariana e começou a fazer desenhos nos lençois com as pontas dos dedos.

- Depois vem um novo objectivo.

- Assim? Quero dizer... se te dedicas a algo, ao teu emprego, a um sonho teu, durante tanto tempo, isso passa a ser parte de ti, a definir-te como pessoa...

Ainda a olhar para ela, nas suas deambulações, de olhos fixos mo tecto, David sorriu e disse simplesmente:

- Reinventas-te! São as melhores oportunidades.

Mariana não respondeu imediatamente.
Depois foi a sua vez de fixar David como que tentando ler nos seus olhos o desenrolar da sua linha de pensamento.

- Então...passas a vida a reinventar-te?

- Mariana, toda a vida são momentos. Não uma sucessão de eventos sem fim. Quando pensas na tua vida até agora, naquilo que alcançaste, no que foste perdendo ao longo do caminho, não pensas em todos os dias com a mesma relevância. Muitos deles já nem fazem parte da tua memória palpável. Foram varridos para debaixo do tapete. Guardas apenas os momentos importantes, felizes ou tristes. Aqueles momentos que contribuiram mais um pouco para moldar a tua personalidade, para te definir como és. No fundo, em que te reinventaste de forma não ponderada. - Fez uma pausa e voltou a sorrir para ela - Simplesmente, quando acabas uma etapa da tua vida, sem iniciares outra prontamente, fazes tu o trabalho de te moldares à nova situação.

Mariana suspirou e voltou a olhar para o tecto, sem saber o que responder; sabia já, sem o saber, que aquela noite seria muito mais do que apenas uma noite e que aquele homem seria o mais importante da sua vida.

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Porto Seguro

Andamos todos com máscaras; todos camuflados, escondidos dos outros e de nós mesmos.

Vamos escolhendo portos seguros onde nos abrigar e onde a máscara pode descair ou ser retirada totalmente; pequenos momentos, determinados lugares, um ínfimo número de pessoas.

Por vezes esses portos de abrigo perdem-se e somos forçados a andar à deriva sem saber como nos comportar, o que esconder, o que reter. São momentos difíceis e solitários, momentos de procura e exasperação. E por vezes vemos oásis onde eles não existem realmente e, mais uma vez, incorremos no erro de nos deixarmos resvalar para o nosso verdadeiro âmago. Quando nos apercebemos do erro cometido, já os estragos estão feitos, já mais um momento se perdeu e nada se ganhou a não ser um aperto no peito e uma pressão no fundo dos olhos.

Felizmente, nem sempre nos enganamos e, durante o percurso de procura vamos encontrando alguns portos provisórios que nos sustêm nos momentos difíceis e que nos mantêm com forças que nos permitem chegar a um novo bom porto. Seguro, confortável, nosso.

A todos os meus amigos.

Procura a Maravilha*