Sentia esta necessidade de me sintonizar com o novo ritmo, longe do meu mundo de intenso e desorganizado trabalho. Foi assim que decidi tirar este primeiro dia apenas para relaxar.
A hora de maior calor foi passada comigo estendida na cama, usando a solidão para por em dia a leitura de algo que não se relacionasse com toda a realidade à minha volta. O Porconi espreguiçava aos meus pés e ia ronronando de forma ritmada no seu sono leve.
Ao fim da tarde, fui passear a pé para conhecer a aldeia envolvente. O ambiente era calmo, quente, com um suspiro de fundo criado pelos grilos e algumas gargalhadas de crianças. Na praça central, desenrolando-se em torno de uma pequena fonte com simbolismos religiosos e à frente de uma igreja, havia uma pequena feira de manufactura e velharias. Rodei pelas bancadas coloridas, perdendo-me na imensidão de brincos, pulseiras, lenços, malas, pregadeiras, moedas de colecção, postais antigos e louça usada. Acabei por comprar uma coleira de cabedal com arabescos vermelhos e um guizo da mesma cor para o meu gatinho.
Entrei na Igreja e deixei-me ficar sentada no banco do fim, a observar as decorações religiosas, de grande simplicidade e alguns brocados a imitar rococó. Havia duas senhoras sentadas em bancos mais à frente, separadas, de cabeças baixas e murmurando para as mão entrelaçadas. O ambiente era tranquilizador e de esperança; perguntei-me que ajuda estariam aquelas mulheres a pedir e, por momentos, desejei saber como seria acreditar numa entidade superior ue estivesse a olhar por nós e a cuidar do nosso bem estar.
À saída da igreja, um jovem distribuía panfletos a anunciar uma junção de bandas que ocorreria na noite seguinte. Poderia tornar-se um programa...
A Lebre de Vatanen, Arto Paasilinna (Relógio d'Água)
Há 5 semanas