terça-feira, 24 de agosto de 2010

Parte IV

Sentia esta necessidade de me sintonizar com o novo ritmo, longe do meu mundo de intenso e desorganizado trabalho. Foi assim que decidi tirar este primeiro dia apenas para relaxar.

A hora de maior calor foi passada comigo estendida na cama, usando a solidão para por em dia a leitura de algo que não se relacionasse com toda a realidade à minha volta. O Porconi espreguiçava aos meus pés e ia ronronando de forma ritmada no seu sono leve.

Ao fim da tarde, fui passear a pé para conhecer a aldeia envolvente. O ambiente era calmo, quente, com um suspiro de fundo criado pelos grilos e algumas gargalhadas de crianças. Na praça central, desenrolando-se em torno de uma pequena fonte com simbolismos religiosos e à frente de uma igreja, havia uma pequena feira de manufactura e velharias. Rodei pelas bancadas coloridas, perdendo-me na imensidão de brincos, pulseiras, lenços, malas, pregadeiras, moedas de colecção, postais antigos e louça usada. Acabei por comprar uma coleira de cabedal com arabescos vermelhos e um guizo da mesma cor para o meu gatinho.

Entrei na Igreja e deixei-me ficar sentada no banco do fim, a observar as decorações religiosas, de grande simplicidade e alguns brocados a imitar rococó. Havia duas senhoras sentadas em bancos mais à frente, separadas, de cabeças baixas e murmurando para as mão entrelaçadas. O ambiente era tranquilizador e de esperança; perguntei-me que ajuda estariam aquelas mulheres a pedir e, por momentos, desejei saber como seria acreditar numa entidade superior ue estivesse a olhar por nós e a cuidar do nosso bem estar.

À saída da igreja, um jovem distribuía panfletos a anunciar uma junção de bandas que ocorreria na noite seguinte. Poderia tornar-se um programa...

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Parte III

- Desculpe, querida, bom dia! - era a responsável da quinta. Balbuciei um cumprimento desajeitado enquanto procurava sentar-me para fitar a minha interlocutora. - Temos ali tudo posto para o pequeno-almoço. É tudo caseiro, desde o pão às compotas. Não quer experimentar?

De facto, a perspectiva de uma carcaça acabada de cozer, com uma colher de manteiga a derreter abria-me o apetite, já quando vinha a descer para o exterior.

Levantei-me com um sorriso e dirigi-me para uma mesa à sombra, no alpendre. A minha senhoria ofereceu-me café e, enquanto o servia, eu fui em busca do meu pãozinho com manteiga, à mesa de madeira coberta com lona.

Saboreei sem presas o pequeno repasto, toda eu sorrisos e calma, uma dentada de cada vez, intervalada com um gole do café forte, feito instantes antes.

Agradeci novamente a hospitalidade e voltei para o meu pareo e a minha relva penetrante, mas fiquei apenas sentada uns segundos antes de me decidir experimentar a água da piscina.

Estava fria, e senti o meu corpo debater-se entre o agradável calafrio que me percorreu a espinha, contrastando com o calor opressor que se impunha, e o contrair dos pés perante a calidez inesperada. E enquanto processava esta informação, o corpo habituou-se à temperatura e foi com um suspiro prazenteiro que me atirei para a frente, mergulhando de cabeça e sentindo-me leve no meio de toda aquela água.

Aflorei à superfície, sorrindo continuamente. Já me havia esquecido do prazer de sermos abraçados por todas aquelas ínfimas gotas que nos tornam leve o corpo e o espírito e nadar, e perufurar a água, mexendo-me, cansando-me e adorando simplesmente sentir-me tão livre!

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Parte II

Alugava, por um preço incrivelmente baixo, aquele quarto numa espécie de quinta, bem o interior do Alentejo. A casa funcionava como um turismo de habitação, quarto com casa de banho, piscina, equitação e pequeno almoço incluídos. Permitidos animais.

O cheiro de pão quente vinha do forno a lenha que havia no recinto e uma velhinha enrugada - provavelmente familiar da responsável que me acolhera - dispunha as coisas do pequeno almoço numa mesinha de madeira rústica, coberta por uma tenda de lona que fornecia uma já necessária sombra.

Um "Bom Dia!" sorridente e dirigi-me para a zona da piscina. Havia cadeiras longas espalhadas mas eu queria sentir de perto todas as sensações, incluindo as providenciadas pela relva. Estiquei o pareo na erva grossa e sentei-me, começando a sessão de creme protector. A relva estava seca mas sentia-se ainda um ligeiro cheiro a terra molhada, provavelmente devido à rega matutina. A água da piscina resplandecia, reflectindo, em minúsculas ondulações, o sol que ia subindo no céu. Estendi-me ao longo do pareo sentindo a relva picar-me as costas e as coxas, como se mantivesse, entre ela e a minha pele, um contacto directo.

Deixei-me ficar assim deitada uns momentos, sentindo a relva nas costas e o sol no ventre, inspirando longamente o ar repleto de pão quente e terra húmida. Ouvia-se o restolhar das folhas e a galhofa dos pássaros, nos ramos das árvores, e eu só queria que aquela paz se entranhasse em mim.

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Parte I

O dia clareava abafado naquela manhã de Agosto. Pela janela aberta, o calor entrava com um esvoaçar das cortinas e eu podia sentir os raios que me beijavam o corpo descoberto no emaranhado de lençóis que teimava em prender-se-me às pernas.

Mesmo já plenamente consciente, as pálpebras recusavam abrir-se, estranhando aquela luz meridional e indiscreta e impedindo-me de me apoderar totalmente dos meus sentidos e levantar-me para dar os bons dias as minhas tão merecidas e adiadas férias.

E então Porconi, o meu gato angorá, espreguiçou-se ruidosamente, no preciso momento em que o delicioso cheiro a pão acabado de cozer entrava, sedutor, do meu pequeno quarto.

Com um despreocupado bocejar sonoro, permiti que o meu corpo se esticasse lentamente, articulação por articulação, com um agradável estalar, deixando para trás o entorpecimento nocturno.

Atirando o que restava dos lençóis para fora da cama, pus-me de pé num salto e puxei a velha t-shirt com que dormira, despindo-a pela cabeça.

Neste estado de semi-nudez - é tão bom sentir esta liberdade! - dirigi-me para a casa de banho para me refrescar para o dia.

E estava na altura de estrear as minhas novas coisinhas - com amor de mim para mim: o meu biquíni vermelho, o pareo em tons flamejantes e o meu novíssimo - e ansioso por ser estreado - creme bronzeador (com protecção!).

Um longo abraço ao meu Porconi, um iogurte líquido na mala e uma maçã para a descida, lá fui eu para o Paraíso na Terra.

Férias de Sonho - Com umas Pinceladas de Realidade

Estamos de férias. E, para aproveitar em cheio estas semanas, parece-me, por bem, deixar de lado alguns pensamentos e desabafos mais introspectivos. É por esse motivo que vou escrever - e partilhar - as minhas férias de sonho. Com isto quero dizer que vou inventar as minhas férias, pegando naquilo que já vivi e naquilo que vou vivendo e vou romancear esses dados para criar os meus ambientes e personagens. Se alguém se identificar, para o bem ou mal, espero que não se zanguem; só quero ter algum material. =)

Beijinhos e Boas férias a Todos!!

Procura a Maravilha

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Saberei Amar?

Saberei eu amar? Serei capaz de estabelecer esse elo que une incondicionalmente duas pessoas uma à outra?

Mistifiquei o amor. Tornei-o o meu objectivo de vida. Experimentei-o e vi-o esmorecer. Provei o fel que me ficou do amargo fim. Agora procuro um equilíbrio entre o amor e a realidade, procuro o amor real, não o amor desvairado, tórrido e intenso que lemos nos livros e que nos tira o fôlego e, normalmente, termina em tragédia ou com um irreal "e viveram felizes para sempre" como se o único enredo que contasse fosse o do encontro desses dois pedaços de alma.

Mas não sei onde procurar... Não sei o que procurar... E, portanto, não sei se sei de todo o que é amar... o que hei-de esperar e o como distinguir de entre os acontecimentos que se vão desenrolando na minha vida. A única coisa que sei é que falta algo para me sentir preenchida, mas não sei se sei dar-lhe nome. E, em sendo, serei eu egoísta ao ponto de o procurar desenfreadamente para preencher os meus desígnios, ou terei a capacidade de dar na mesma medida em que recebo? E é esta minha última frase a essência do amor? Ou será que nem nisso acertei?

Não me julguem mal, não escrevo angustiada... São ideias que me surgem e às quais não sei dar forma e duvido que alguém saiba de todo responder ... às tantas trata-se mesmo disso: de uma característica inerente a cada um, que nunca servirá de resposta para qualquer outro. A sua forma única de amar e a prender a crescer com esse amor.

Estou novamente a divagar.
Presumo que responderei à pergunta se algum dia me apaixonar novamente... Será?


Procura a Maravliha