quarta-feira, 20 de junho de 2012

À beira do rio


    Sentaram-se lado a lado na margem do rio, observando os últimos raios de sol sobre a água, para lá da foz. A luz alaranjada continha ainda restos do calor que se fizera sentir durante todo aquele dia tão estranhamente completo.
    Não se haviam tocado; apenas trocado alguns breves olhares cúmplices, tendo simplesmente deixado a conversa correr. Agora encontravam-se silenciosos a olhar aquela bola incandescente que desaparecia no horizonte, a ouvir o marulhar das águas, com um palmo de distância entre os seus corpos. 
    - Estás linda… Esta luz torna-te magnífica – declarou ele de súbito e ela apercebeu-se que havia algum tempo que a fixava.
    Demorou-se a olhar para ele. Com a cara em contraluz e metade obscurecida pela sombra, conseguia discernir-lhe pequeníssimas rugas em torno dos olhos e nos cantos da boca; uma característica que, apesar da sua tenra idade, lhe conferia uma assinatura de vida já vivida – as rugas como sinais cravados na face que contavam as suas alegrias e tristezas mais profundas.
    Suspirou, sorrindo. – Obrigada pelo dia de hoje.
    Não precisavam de mais do que aquele momento. Ambos sabiam que se tratava do início de algo mais, mas não queriam acelerar nada.
   Tranquilamente, la chegou-se mais a ele e deitou a cabeça no seu ombro. Não houve arrepios, nem choques a percorrer o corpo, nem um mínimo tremor. Sentiam-se simplesmente bem na companhia um do outro e deixaram-se ficar assim até o céu escurecer e aparecerem as primeiras estrelas.

    Procura a Maravilha =)

quinta-feira, 7 de junho de 2012

"A menina sofre de amor"

    - Diga lá, então, quais são as suas queixas.
    - Sabe doutor, é assim… um bocadinho de tudo… É um aperto constante no peito, um sobressalto contido, e a vontade de gritar bem alto, para ajudá-lo a passar; é sentir uma necessidade urgente de correr, e descobrir que não tenho forças; é este sorriso estúpido que não me sai dos lábios, de tal forma que as cãibras nas bochechas são uma constante; é uma obsessão louca de olhar para o telemóvel em busca de sinais, e a total falta de concentração para fazer tudo o resto; é ter momentos de toda a euforia do mundo, e depois estados de melancolia absolutamente inexplicável; é uma alegria tamanha que me leva às lágrimas; é um sentimento de total alheamento da realidade, e o só me dar conta disso depois de horas a sentir-me protagonista de um filme de Hollywood; é não conseguir comer, não conseguir dormir, não conseguir pensar; é desejar o bem a todo o mundo, sem realmente me aperceber que há mais gente nele… Não sei se me faço entender…
    - Minha cara, não há mais que entender. A menina sofre do mais forte de todos os males, o melhor de todos os bens. A única doença para a qual não se procura a cura, pois não existe. A única doença cujo maior mal que traz é desaparecer. É a doença que todos desejam ter, porque é a única que permite viver. A menina sofre de amor.

    Procura a Maravilha <3 p="p">

sábado, 2 de junho de 2012

O Som da Música

    Acontece-me por vezes prestar um pouco mais de atenção às melodias que me ficam presas na cabeça - e na garganta. Já diziam os Abba "nothing can capture a heart like a melody can". Há músicas lindas. Por vezes são ainda mais enriquecidas pelas letras que as compõem, outras vezes a própria melodia de fundo prende-nos e transporta-nos para outro mundo. Eu adoro cantar. E há dias em que uma música pura e simplesmente não me larga as cordas vocais. Nestes momentos - e sobretudo se tenho algum tempo para mim - não consigo deixar de me admirar com a forma como há que consiga escolher a sequência perfeita de notas de forma a originar melodias tão deliciosas. E uso este adjetivo de propósito. O modo como sinto a minha garganta adpatar-se para acomodar essas notas em sequência é extremamente saboroso... Deixar o som sair e senti-lo fluído e cristalino... É uma sensação maravilhosa. A música transporta-me. Consigo sentir tanto com uma melodia... E quantas vezes não parece que uma música descreve os nossos pensamentos, os nossos desejos ou medos... Quantas vezes não reconhecemos a nossa vida numa música e nos apercebemos de novas formas de a viver ou colocamos tudo em questão? Quantos de nós não nos fechámos já no quarto a chorar ao som de músicas que nos acompanham nesses momentos, ou não expulsámos toda a alegria e adrenalina do nosso corpo a gritar as músicas que mais nos elevam o espírito? A música faz vibrar todos os milímetros do nosso corpo e do nosso espírito... nada traduz mais os sentimentos do que uma melodia, nem nada mexe tanto com eles... Adoro música, adoro as melodias simples que acompanham o meu dia a dia, adoro que haja sempre uma música que me permita gritar cá para fora tudo o que estou a sentir, sem ter de procurar as minhas palavras para o expressar. Há dias assim...  

    Procura a Maravilha