sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

The kid in the Train car

Tears filled up my eyes
As he entered the train car
With a Christmas song
Following on his back

I couldn't look at him
I couldn't help him
And I just felt hollow

His lips were moving
His hand holding a paper cup
Straight ahead his chest

He couldn't look at us, too
Eyes empty
But his lips were moving
And he was mumbling
The lyrics to the song that followed him
And his arm was stretched
With an empty paper cup
Pleading to be filled.
Pleading for my help.


quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Cinzento

   Por vezes deparamo-nos com dias negros. Dias em que o sol não brilha no céu nem mesmo dentro de nós. Dias em que o cinzento do céu torna obscuros os nossos pensamentos. Dias em que, por mais que tentemos, não conseguimos que os fantasmas que tão bem trancados se tinham mantido até ali voltem a sossegar. 
   É um mal geral mas nem por isso facilita a sua aceitação. São aquelas alturas em que os nossos problemas parecem maiores do que os problemas de todos os demais mortais que nos rodeiam, mesmo que tenhamos perfeita consciência que há bem pior por aí.
   Nesses dias tudo o que pedimos é um pouco paz de espírito, um pouco de paz do mundo que nos rodeia, e, eventualmente, uma cama quentinha para nos escondermos. E que esse(s) dia(s) passe(m)...

terça-feira, 13 de novembro de 2012

A um amigo...

   Por mais que nos convençamos que estamos cientes da imprevisibilidade da vida, quando somos confrontados com ela percebemos que não estávamos de todo preparados. Compreendemos que "aquelas coisas" que "acontecem só aos outros" nos acontecem a nós, ou a algum familiar ou amigo chegado.
    Entre a dor e a surpresa, a mágoa e o rancor, experimentamos todo um conjunto de emoções e sensações - muitas das quais nem sabemos nomear - que, no mínimo, nos deixam exaustos. Acima de tudo, sentimo-nos impotentes.
    Quando a tragédia cai sobre nós, como agir? Como superar? Como dizer a nós próprios que a vida continua e impedir o medo de que novas desgraças aconteçam?
    Ninguém sabe como agir na adversidade; entre amigos, trabalho e outras ocupações a que vamos buscar alguns momentos de felicidade, tentamos manter a mente ocupada. E procurar aquele raio de sol, cada dia, que nos dá ânimo para os dias seguintes.

   A um amigo...<3 br="br">

domingo, 28 de outubro de 2012

Retalhos de Renda



A tarde escurecia fazendo ressaltar os tons de dourado do sol que se despedia. Sentada num pequeno banco, ela cosia e cosia, semicerrando os olhinhos gastos pela idade. Laurinda cosia e recordava, os dedos a trabalhar e a lembrarem as texturas e toda a panóplia de sentimentos a elas associada. Recordava os dias em que ajudara a sua avó a preparar o seu vestido, pensando com alegria que chegara agora a sua de fazer o mesmo pela neta.
Laura, assim chamada por a mãe ter considerado o nome como uma versão mais moderna do de Laurinda, casava na sexta-feira. Fazia a quinta geração a seguir a tradição dos vestidos de retalhos.
Contava-se o seguinte:
Durante muito tempo, na sequência de um súbito surto de fome, toda aquela região se mantivera despojada de habitantes. A terra não produzia, o gado morria e não havia como alimentar as gentes. O resultado foi o êxodo absoluto: da memória das vidas que ali tinham criado raízes, apenas as estruturas que lhes tinham proporcionado abrigo serviam de testemunho.
Muitos anos depois, um grupo de vizinhos que vivia numa das zonas mais degradadas do litoral ali mais perto, embalaram os seus poucos pertences e partiram em busca de uma nova terra. Chegaram àquela aldeia por mero acaso e ali se instalaram, reclamando como suas as humildes propriedades deixadas para trás tantos anos antes.
Pouco a pouco foi-se formando uma pequena comunidade e, pela altura em que a avó de Laurinda ali chegou, em criança, a terra era novamente fértil e o gado desenvolvia-se. Os pais de Filomena, a avó de Laurinda, instalaram-se numa das poucas casas ainda vagas, um pouco afastada do centro. Uns dias depois de instalados, Filomena descobriu um alçapão no teto do corredor e tratou de arranjar uma escada para descobrir o que se escondia no sótão da sai casa. Além da espessa camada de pó que criava uma carpeta fofa no chão, toda a divisão se encontrava vazia com a exceção de um dos cantos, ao qual se encostavam duas arcas velhas e um pouco comidas.
Filomena ficou deliciada com os vestidos de noiva que enchiam as arcas. Havia rendas e folhos, tule e tafetá, cetim, veludo. No entanto, uma grande parte dos vestidos encontrava-se demasiado danificada para permitir qualquer salvação. Durante os meses que se seguiram Filomena e a mãe trataram de tentar salvar o máximo de tecido que conseguiram, mas apenas dois vestidos puderam ser resgatados. Não lhes encontrando utilidade, decidiram vendê-los à costureira da aldeia. Guardaram consigo, porém, uma arca de retalhos de tecido, na eventualidade de poderem usar algumas faixas ou golas com as suas próprias roupas.
Por ocasião do noivado de Filomena com o filho do padeiro da aldeia, a sua mãe lembrou-se da arca dos retalhos e, seguindo um desenho da própria Filomena, mãe e filha viram passar os dias até ao casamento entretidas a construir o vestido de noiva a partir dos tecidos guardados.
Quando o primeiro filho de Filomena casou, a sua noiva, sendo filha de um simples agricultor e não tendo como conseguir um vestido, pediu à sogra alguns dos seus retalhos, e um novo vestido foi desenhado e costurado. Deste casamento nasceu Laurinda. Quando chegou a sua vez de desposar marido, a arca já não tinha o suficiente para criar um novo modelo. Mas Laurinda, caprichosa, insistiu em desenhar o seu próprio vestido. Para as peças que lhe faltavam, tratou de, com a ajuda da mãe e da avó, desfazer os antigos vestidos. Assim se sublinhou a tradição dos vestidos de retalhos. A mãe de Laura, quis homenagear a mãe, Laurinda, usando o seu vestido, mas Laura, que herdara o espírito da avó e conhecia toda a história dos retalhos, desde pequena ansiava desenhar o seu vestido e, novamente, trazer vida a toda uma inovadora mistura dos retalhos da famosa arca.

E por isso Laurinda cosia, naquele fim de tarde. Cosia enquanto esperava a neta que tinha ido comprar umas pedrinhas para acrescentar o seu vestido, cuja costura continuaria após os dedos cansados da avó terem pousado os trapos. Juntas trabalhavam todas as tardes e todas as noites para que Laura fizesse jus ao seu esboço.
E a arca mantinha-se arrumada, no seu canto do sótão, guardando os pedaços de tecido que aguardavam a sua vez de integrarem um novo vestido.


Procura a Maravilha ;)

sábado, 6 de outubro de 2012

Uma Voz na Noite

    E subitamente  lá estava ela outra vez. A voz. Pousei o livro para escutar melhor. Estaria alguém a ouvir um CD? Ou estava mesmo a cantar? Não se ouvia qualquer música de fundo, apenas a voz. Mas uma voz forte, timbrada e ritmada, que não perdia força nem fôlego. Não reconhecia a canção. Sabia apenas que era um homem a cantar. Todas as janelas daquela parte da casa davam para um espécie de pátio interior e delas podiam ver-se as janelas dos prédios em redor, que também acediam a esse pátio. Decidi abrir a janela do quarto para ouvir melhor. Não consegui identificar de onde vinha o som. No entanto, definitivamente era um homem que cantava só para si. Pelo timbre, perguntei-me se seria africano. A voz era linda e não fraquejava. Ouvia-se água a correr, aparentemente de mais perto. Estaria o homem a tomar banho? Os sons pareciam vir de lugares distintos. Sentada no braço do sofá, deixei-me ficar a ouvir, com o olhar preso no escuro da noite e já não tentava identificar de onde vinha a voz. Apoiei a cabeça na mão, com o cotovelo no parapeito da janela. Não me conseguia impedir de sorrir. Estava a absorver todo aquele momento. Era tudo enigma e magia e sentia-me como que sob hipnose. Reconheci parte da letra e sorri mais. Não era uma música que tivesse ouvido muitas vezes, mas já a tinha ouvido. E quando ele chegou ao fim, murmurei também para mim o verso final. A água parou de correr; a voz continuou a cantar. Apenas por mais uns momentos. Fechei a janela a sorrir e, ainda a sorrir, saí do quarto. Enquanto percorria o corredor a voz foi-se esbatendo e, quando me sentei para descrever o momento que tinha acabado de viver, já se silenciara por completo.

    Procura a Maravilha ;-D

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Um Final Feliz

    Durante muito tempo não quis cantar vitória. Dois anos. Pelo menos. Não podia. Continuo com receio de o fazer; como todos nós, calculo. É demasiado o medo de mais um susto, mais um contratempo.
    Parece ter passado uma eternidade e, ao mesmo tempo, parece que este pesadelo começou apenas na semana passada. Ao longo deste tempo todo a minha avó mostrou uma garra e um amor à vida como não só nunca vi em mais ninguém como duvido que a maior parte das pessoas possua. Em tempos críticos, quando nós achávamos que já não aguentávamos mais sobressaltos, a minha avó mantinha a cabeça erguida e a firmeza de quem sabe o que quer e não desiste de arriscar, contentando-se com um semi-final, semi-feliz. E, no entanto, fiquei hoje a saber que também foi ela quem deu o alerta; foi ela quem pela primeira vez disse: Ajudem-me; sinto que vou morrer.
    Aparentemente tivémos o nosso final feliz. Todos nós. A minha avó mantém-se  connosco e atrevo-me a dizer que igual a si própria e a tudo o que sempre foi antes de ter estado às portas da morte. Continua linda, vaidosa, feliz e tagarela. O seu próprio corpo recompensou-a, resconstruindo-se de maneira absolutamente extraordinária que até os médicos deixou surpresos. Sobreviveu ao que muitos não sobreviveriam, com um sorriso nos lábios e sem rancores ou raiva para com quem a colocou nesta situação. Acima de tudo, e talvez o mais surpreendente, pois tinha todos os motivos para isso, sem uma palavra de autocomiseração.
    Não podia ter mais orgulho nela nem estar mais feliz por este desfecho, por este milagre da vida que ela é e pelo privilégio de ser neta dela!
   Procura a Maravilha <3 br="br">

quarta-feira, 20 de junho de 2012

À beira do rio


    Sentaram-se lado a lado na margem do rio, observando os últimos raios de sol sobre a água, para lá da foz. A luz alaranjada continha ainda restos do calor que se fizera sentir durante todo aquele dia tão estranhamente completo.
    Não se haviam tocado; apenas trocado alguns breves olhares cúmplices, tendo simplesmente deixado a conversa correr. Agora encontravam-se silenciosos a olhar aquela bola incandescente que desaparecia no horizonte, a ouvir o marulhar das águas, com um palmo de distância entre os seus corpos. 
    - Estás linda… Esta luz torna-te magnífica – declarou ele de súbito e ela apercebeu-se que havia algum tempo que a fixava.
    Demorou-se a olhar para ele. Com a cara em contraluz e metade obscurecida pela sombra, conseguia discernir-lhe pequeníssimas rugas em torno dos olhos e nos cantos da boca; uma característica que, apesar da sua tenra idade, lhe conferia uma assinatura de vida já vivida – as rugas como sinais cravados na face que contavam as suas alegrias e tristezas mais profundas.
    Suspirou, sorrindo. – Obrigada pelo dia de hoje.
    Não precisavam de mais do que aquele momento. Ambos sabiam que se tratava do início de algo mais, mas não queriam acelerar nada.
   Tranquilamente, la chegou-se mais a ele e deitou a cabeça no seu ombro. Não houve arrepios, nem choques a percorrer o corpo, nem um mínimo tremor. Sentiam-se simplesmente bem na companhia um do outro e deixaram-se ficar assim até o céu escurecer e aparecerem as primeiras estrelas.

    Procura a Maravilha =)

quinta-feira, 7 de junho de 2012

"A menina sofre de amor"

    - Diga lá, então, quais são as suas queixas.
    - Sabe doutor, é assim… um bocadinho de tudo… É um aperto constante no peito, um sobressalto contido, e a vontade de gritar bem alto, para ajudá-lo a passar; é sentir uma necessidade urgente de correr, e descobrir que não tenho forças; é este sorriso estúpido que não me sai dos lábios, de tal forma que as cãibras nas bochechas são uma constante; é uma obsessão louca de olhar para o telemóvel em busca de sinais, e a total falta de concentração para fazer tudo o resto; é ter momentos de toda a euforia do mundo, e depois estados de melancolia absolutamente inexplicável; é uma alegria tamanha que me leva às lágrimas; é um sentimento de total alheamento da realidade, e o só me dar conta disso depois de horas a sentir-me protagonista de um filme de Hollywood; é não conseguir comer, não conseguir dormir, não conseguir pensar; é desejar o bem a todo o mundo, sem realmente me aperceber que há mais gente nele… Não sei se me faço entender…
    - Minha cara, não há mais que entender. A menina sofre do mais forte de todos os males, o melhor de todos os bens. A única doença para a qual não se procura a cura, pois não existe. A única doença cujo maior mal que traz é desaparecer. É a doença que todos desejam ter, porque é a única que permite viver. A menina sofre de amor.

    Procura a Maravilha <3 p="p">

sábado, 2 de junho de 2012

O Som da Música

    Acontece-me por vezes prestar um pouco mais de atenção às melodias que me ficam presas na cabeça - e na garganta. Já diziam os Abba "nothing can capture a heart like a melody can". Há músicas lindas. Por vezes são ainda mais enriquecidas pelas letras que as compõem, outras vezes a própria melodia de fundo prende-nos e transporta-nos para outro mundo. Eu adoro cantar. E há dias em que uma música pura e simplesmente não me larga as cordas vocais. Nestes momentos - e sobretudo se tenho algum tempo para mim - não consigo deixar de me admirar com a forma como há que consiga escolher a sequência perfeita de notas de forma a originar melodias tão deliciosas. E uso este adjetivo de propósito. O modo como sinto a minha garganta adpatar-se para acomodar essas notas em sequência é extremamente saboroso... Deixar o som sair e senti-lo fluído e cristalino... É uma sensação maravilhosa. A música transporta-me. Consigo sentir tanto com uma melodia... E quantas vezes não parece que uma música descreve os nossos pensamentos, os nossos desejos ou medos... Quantas vezes não reconhecemos a nossa vida numa música e nos apercebemos de novas formas de a viver ou colocamos tudo em questão? Quantos de nós não nos fechámos já no quarto a chorar ao som de músicas que nos acompanham nesses momentos, ou não expulsámos toda a alegria e adrenalina do nosso corpo a gritar as músicas que mais nos elevam o espírito? A música faz vibrar todos os milímetros do nosso corpo e do nosso espírito... nada traduz mais os sentimentos do que uma melodia, nem nada mexe tanto com eles... Adoro música, adoro as melodias simples que acompanham o meu dia a dia, adoro que haja sempre uma música que me permita gritar cá para fora tudo o que estou a sentir, sem ter de procurar as minhas palavras para o expressar. Há dias assim...  

    Procura a Maravilha

domingo, 20 de maio de 2012

Mesmo do outro lado do mundo

    Sentada sobre a estrutura tosca que o seu avo construíra sobre as águas mansas do rio, deixava a perna baloiçar, molhando os dedos ao de leve na água fresca. Deixava-se estar, ouvindo o gemer das árvores aquando da passagem do vento, os chilrear dos pardais, alegres com a chegada do calor, o suava burburinho produzido pela corrente debaixo de si. A cara dele surgiu-lhe no pensamento e, de súbito, o coração começou a pular-lhe no peito. Um ligeiro sorriso curvou-lhe os lábios. Sabia agora - sentia - que era verdade. Lembrou-se das palavras da mão, quando era mais nova e esperava por um príncipe no corcel branco: "Como pode haver uma pessoa certa para nós se somos tantos o mundo?". Durante muito tempo dera crédito a estas palavras, imaginando um amor longínquo, talvez perdido por terras asiáticas, destinado para si mas sem meio de a conhecer. Agra sabia que não era assim, que havia alguém só para si, pronto para amá-la independentemente da distância. Porque ao estarem no mundo um para o outro, o Universo encarregava-se de os colocar na mesma órbita e obrigá-los a colidir. Acontecera; estava a acontecer-lhe, a ela. E sentia-se feliz.

segunda-feira, 14 de maio de 2012

É curioso como por mais que se tentem antecipar as coisas, a vida segue o seu rumo sem ligar nenhuma aos nossos desejos e medos, às nossas expectativas. Mais curioso ainda é como acho isso absolutamente espetacular e que não deveria ser de qualquer outra maneira. Crescemos a criar todo um mundo - pegamos em retalhos da realidade, acrescentamos uma pitada de fantasia e moldamos a mistura de acordo com as várias regras e pressuposto que nos são impostos. Quando chega a altura de sermos nós a construir a nossa história, o impensável acontece: descobrimos que nada do que nos foi dito, ensinado, imposto, corresponde ao que se nos depara. Todas as regras têm de ser refeitas de acordo com a nossa própria experiência e as nossas escolhas; o certo não é apenas o que nos ensinam ser certo; o bom varia de pessoa para pessoa. E isso é magnífico.