sábado, 31 de julho de 2010

A Linha do Discernimento

Até que ponto seremos nós influenciáveis? Quais são os factores que determinam os nossos comportamentos perante as situações que se nos deparam, sejam elas boas ou más?

Quando crianças, temos por exemplo aqueles que nos criam e que procuramos a todo o custo imitar, por forma de obtermos a sua aprovação. Mas o que determina a escolha da figura que vamos seguir? Porque somos mais tentados, desde pequenos e ainda com tão pouca informação, por uma das figuras da nossa vida?

E o que faz com que haja depois o desprender dessa imagem para começar a procurar peças nos restantes indivíduos com que nos vamos cruzando? Todos temos os nossos heróis, aqueles a quem admiramos e procuramos imitar. Claro que falo da minha experiência e daquela que, em princípio, será a de quem me é próximo pois, felizmente, não sofremos episódios que possam, de forma mais abrupta e traumática, delinear as nossas personalidades. Esses casos serão ainda mais complexos, em meu entender - que, verdade seja dita, é escasso nesta matéria.

Enquanto crianças, quantas vezes não ouvimos dizer ou dissemos mesmo "E se me atirar de um poço, também te atiras?".

Quando se dá a rotura? Ou, mais propriamente, como? O que nos faz começar a tomar-nos a nós em consideração? E como é que se estabelece a linha entre aquilo que os outros fzaem nos afceta e nos leva a copiá-los e a nossa própria individualidade e voz interior?

Não sei, não consigo dizer. as por vezes incomodam-me as atrocidades que muito boa gente comete por influências alheias e pergunto-me o que fez resvalar o balanço do discernimento para o lado - errado - do copycat. Mais assustador é pensar que todos - incluindo eu - estamos sujeitos a esse perigo.

Se não sabemos o que define os dois lados desta ténue linha, saberemos controlá-la?

Opiniões Aceitam-se.
E Não se esqueçam...

...Procura a Maravilha

terça-feira, 27 de julho de 2010

As Cores da Vida

E então olhou para as cores que tinha à sua disposição e decidiu chamar-lhes primárias. E estabeleceu que todas as demais proviriam delas. E como primárias que eram, seriam também determinantes dos elementos primordiais da vida.
Fez então brilhar o Sol e trouxe toda a claridade e todo o desvendar da beleza do mundo em seu redor. Com o sol cresceram as plantas, os seus caules verdes brotando vigorosamente do chão. Depois as flores, enchendo tudo de cor e alegria, diversidade de formas e odores.
Como que por magia, pincelou-se o mar de azul, e toda a sua imensidão espelhou-se no céu invejoso, que chamou a si as demais características da água, armazenando o ar em formas finas, confinadas no seu branco espumoso, que lançavam pequenas gotículas de vez a vez. Foi altura de o mar dar de si e sobrepor-se ao céu e então tornou-se tumultuoso, as ondas rebentando contra as rochas e criando a espuma salgada e fofa.
Por fim, pôs o sangue a correr nas veias, infindáveis rios de vermelho que fizeram vigorar a vida. Deu o rubor à tez e a dor ao corpo; deu o sabor à boca e a forma ao coração. E com ele surgiram os batimentos e os anseios e os sentimentos e o amor.
E todo o mundo se tornou uma festa de sensações, cores, cheiros, ritmos e loucuras. E valeu a pena a Vida.


"Procura a Maravilha" <3

segunda-feira, 5 de julho de 2010

Entre as Ameias - II

Acreditas em sonhos premonitórios?

A voz da rapariga era inesperadamente grave. Mantinha, no entanto, toda a doçura de uma voz feminina, com um timbre delicado e maravilhoso.

O rapaz não lhe respondeu. Mas ela continuou o se monólogo.

Já me aconteceu... às vezes convenço-me que os sonhos traduzem as nossas aspirações ou receios... outras vezes, servem apenas para ordenar na nossa mente os acontecimentos de um dia intenso e preenchido. Mas já tive sonhos que se realizaram... Sabes...?

Baixou a voz.

Acho que sonhei contigo ainda antes de te conhecer.


Ele apenas deixou um dos cantos da boca formar um meio sorriso. Mas ela mantinha-se de costas; era indiferente. Já sabia como as coisas funcionavam no mundo estranho que era aquela linda cabeça de anjo. Não valia a pena discutir. Aprendera a deixar-se levar para esse mundo e gostava desses devaneios momentâneos. Afinal, era o motivo pelo qual se apaixonara por ela.

Estávamos num jardim... Era lindo. Eu estava a ler e o meu lenço voava. E quando começava a correr para o apanhar esbarrava com o ser mais belo, um autêntico Adónis de sangue quente e respiração doce, que me olhava surpreendido enquanto aarrava o meu lenço bem firme acima da cabeça.

Sorriu.
Ele levantou-se e veio por-se a seu lado, acariciando-lhe o cabelo.

Sou um Adónis?


Ela fitou-o com os seus olhos sonhadores e um sorriso encantador.

És! És o meu Adónis. E tive a certeza de te ter encontrado, quando tropecei em ti e te enterrei debaixo de todos aqueles livros e pastas! Tinhas o mesmo ar maravilhosamente interrogador que o do sonho... e estávamos...

...Em plena cidade!


Ele ria-se.

Mas havia relva em volta!

Como deve ser bom viver nesse teu mundo...


Ora... é o mesmo que o teu! Apenas o vemos de formas diferentes...


O telefone tocou.
Ele acordou sobressaltado, mas já não ia a tempo de atender a chamada.
Viu o nome. Menos mal... Também não teria querido atender...
Sentia-se em harmonia com a vida depois daquele estranho sonho. Não queria perder isso falando com ela. Não nessa noite.


"Procura a Maravilha"