sábado, 6 de outubro de 2012

Uma Voz na Noite

    E subitamente  lá estava ela outra vez. A voz. Pousei o livro para escutar melhor. Estaria alguém a ouvir um CD? Ou estava mesmo a cantar? Não se ouvia qualquer música de fundo, apenas a voz. Mas uma voz forte, timbrada e ritmada, que não perdia força nem fôlego. Não reconhecia a canção. Sabia apenas que era um homem a cantar. Todas as janelas daquela parte da casa davam para um espécie de pátio interior e delas podiam ver-se as janelas dos prédios em redor, que também acediam a esse pátio. Decidi abrir a janela do quarto para ouvir melhor. Não consegui identificar de onde vinha o som. No entanto, definitivamente era um homem que cantava só para si. Pelo timbre, perguntei-me se seria africano. A voz era linda e não fraquejava. Ouvia-se água a correr, aparentemente de mais perto. Estaria o homem a tomar banho? Os sons pareciam vir de lugares distintos. Sentada no braço do sofá, deixei-me ficar a ouvir, com o olhar preso no escuro da noite e já não tentava identificar de onde vinha a voz. Apoiei a cabeça na mão, com o cotovelo no parapeito da janela. Não me conseguia impedir de sorrir. Estava a absorver todo aquele momento. Era tudo enigma e magia e sentia-me como que sob hipnose. Reconheci parte da letra e sorri mais. Não era uma música que tivesse ouvido muitas vezes, mas já a tinha ouvido. E quando ele chegou ao fim, murmurei também para mim o verso final. A água parou de correr; a voz continuou a cantar. Apenas por mais uns momentos. Fechei a janela a sorrir e, ainda a sorrir, saí do quarto. Enquanto percorria o corredor a voz foi-se esbatendo e, quando me sentei para descrever o momento que tinha acabado de viver, já se silenciara por completo.

    Procura a Maravilha ;-D

Sem comentários:

Enviar um comentário