terça-feira, 5 de outubro de 2010

Menina e Menino

    A Menina e o Menino eram inseparáveis. Moravam ao lado um do outro, e tinham crescido a ver-se crescer. Quando iam para a escola, davam as mãos e cantarolavam. Se um se esquecia do lanche, por certo o outro tinha uma maçã para lhe oferecer. Brincavam as mesmas brincadeiras, eram parceiros em todos os jogos e partilhavam todos os segredos.
    E foi neste laço de amizade familiar que foram crescendo. E com esse crescimento, vieram escolas diferentes.
    Se deixaram de se poder ver todos os dias, nem por isso deixaram de gostar um do outro como gostavam, e cada vem que o Menino via a Menina ao fundo da rua ia ajudá-la com a mala, e sempre que podiam lanchavam juntos, debaixo do alpendre de uma das suas casas.
    Mas então as amigas da Menina começaram a dizer-lhe que aquilo era amor. E a Menina acreditou. Se todos concordavam, deviam ter razão. E mais do que as conversas com limonada, começou a querer os seus lábios açucarados.
    Só que os amigos do Menino não o tinham informado do mesmo modo, e mais do que as conversas com limonada, o Menino começou a desejar a companhia de caras bonitas.
Foi com surpresa e com desgosto que a Menina se viu ser assim trocada, sem aviso nem razão aparente, por qualquer outra com uns olhos mais bonitos, mas menos cumplicidade com o seu Menino.
     E como não soube dizer-lhe o que lhe ia na alma – e este foi o seu primeiro segredo – resignou-se com uma retirada para os bastidores de uma história a que já não pertencia.
    Quando os seus olhos voltaram a encontrar-se, foi com esforço que tentaram agarrar-se ao que eram. Mas sem saberem como, já nada era como antes, nem Menino, nem Menina, nem o mundo que tinham construído juntos.
    E, com amor ou sem amor, perderam a amizade de uma vida.

    Procura a Maravilha...

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