domingo, 20 de maio de 2012

Mesmo do outro lado do mundo

    Sentada sobre a estrutura tosca que o seu avo construíra sobre as águas mansas do rio, deixava a perna baloiçar, molhando os dedos ao de leve na água fresca. Deixava-se estar, ouvindo o gemer das árvores aquando da passagem do vento, os chilrear dos pardais, alegres com a chegada do calor, o suava burburinho produzido pela corrente debaixo de si. A cara dele surgiu-lhe no pensamento e, de súbito, o coração começou a pular-lhe no peito. Um ligeiro sorriso curvou-lhe os lábios. Sabia agora - sentia - que era verdade. Lembrou-se das palavras da mão, quando era mais nova e esperava por um príncipe no corcel branco: "Como pode haver uma pessoa certa para nós se somos tantos o mundo?". Durante muito tempo dera crédito a estas palavras, imaginando um amor longínquo, talvez perdido por terras asiáticas, destinado para si mas sem meio de a conhecer. Agra sabia que não era assim, que havia alguém só para si, pronto para amá-la independentemente da distância. Porque ao estarem no mundo um para o outro, o Universo encarregava-se de os colocar na mesma órbita e obrigá-los a colidir. Acontecera; estava a acontecer-lhe, a ela. E sentia-se feliz.

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