O dia clareava abafado naquela manhã de Agosto. Pela janela aberta, o calor entrava com um esvoaçar das cortinas e eu podia sentir os raios que me beijavam o corpo descoberto no emaranhado de lençóis que teimava em prender-se-me às pernas.
Mesmo já plenamente consciente, as pálpebras recusavam abrir-se, estranhando aquela luz meridional e indiscreta e impedindo-me de me apoderar totalmente dos meus sentidos e levantar-me para dar os bons dias as minhas tão merecidas e adiadas férias.
E então Porconi, o meu gato angorá, espreguiçou-se ruidosamente, no preciso momento em que o delicioso cheiro a pão acabado de cozer entrava, sedutor, do meu pequeno quarto.
Com um despreocupado bocejar sonoro, permiti que o meu corpo se esticasse lentamente, articulação por articulação, com um agradável estalar, deixando para trás o entorpecimento nocturno.
Atirando o que restava dos lençóis para fora da cama, pus-me de pé num salto e puxei a velha t-shirt com que dormira, despindo-a pela cabeça.
Neste estado de semi-nudez - é tão bom sentir esta liberdade! - dirigi-me para a casa de banho para me refrescar para o dia.
E estava na altura de estrear as minhas novas coisinhas - com amor de mim para mim: o meu biquíni vermelho, o pareo em tons flamejantes e o meu novíssimo - e ansioso por ser estreado - creme bronzeador (com protecção!).
Um longo abraço ao meu Porconi, um iogurte líquido na mala e uma maçã para a descida, lá fui eu para o Paraíso na Terra.
Pretextos, Helder Macedo (Caminho)
Há 3 dias
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