segunda-feira, 24 de maio de 2010

Pontas Soltas I


Acordou de madrugada, com um sentimento de absoluta tranquilidade. Abandonou a cama, sentindo o ar frio de inverno abraçar-lhe o corpo nu.
Dirigiu-se à janela e abriu as cortinas de par em par, deixando que os primeiros raios penetrassem suavemente pelas frinchas das portadas de madeira. Seguiu-os com o olhar e vi-os pousar no peito descoberto daquele desconhecido que a arrebatara. Sorriu ao avaliar o seu rosto sereno na penumbra, o cabelo desgrenhado, os lábios ligeiramente afastados, a respiração quente e ronronante, a barba que despontava.
Sentou-se na poltrona enroscando-se em si própria. Pousou a cabeça nos joelhos e deixou o cabelo escorregar pelo pescoço.
A última noite discorreu como que feita sonho. 
A maneira como lhe surgira no meio da chuva, vindo não se sabe de onde, o seu olhar intenso, ardente. 
Ficaram ambos parados à chuva por uns segundos, sem conseguirem desligar-se do olhar um do outro. 
Então ela pegou-lhe na mão e guiou-o suavemente para o interior de sua casa.
Não falaram.
Ela despiu-lhe a gabardina encharcada e dirigiu-se à casa de banho para ir buscar uma toalha. Ele mantivera-se direito, de pé, os olhos presos no lugar onde ela desaparecera, e sustentou a posição enquanto ela se aproximava. Um pequeno estremecimento denunciou a sua emoção, quando o tocou pela primeira vez por sobre a toalha e foi ela quem se sentiu tremer quando ele interceptou a sua mão, envolvendo-a com um calor inesperado.
Apoderando-se da toalha começou a enxugar-lhe o cabelo revolto que lhe pingava as costas.
- Vais adoecer – sussurrou.
Como que hipnotizada, fixou-o, entreabrindo os lábios, e começou a desabotoar lentamente a camisa que se lhe colava às formas, denunciando o seu corpo. Deixou-se afagar, sentindo o turco deslizar-lhe pelo cabelo, a face, os ombros, os seios…
Fechou os olhos.
Avançou para ele.
Um calor inebriante percorreu-lhe o corpo quando pousou as mãos no peito dele. Inspirou o seu perfume silvestre. Apoiou a testa no seu ombro e tirou-lhe a camisa de dentro das calças. Sentiu-se enlaçada e extremamente leve quando ele a apertou contra si e a levou em direcção à cama.

- Bom dia…
Levantou a cabeça. Ele sorria.
- Bom dia.
Pausa.
O que dizer em seguida?
- Dormiste bem? – foi ele quem rompeu o silêncio.
Ela acenou.
O seu sorriso alargou-se.
- Posso arranjar-te alguma coisa?
- Podes voltar para a cama?
Sentiu-se derreter.
Levantou-se devagar e sentou-se na borda da cama; um movimento nas suas costas aproximou-o de si e ela deixou-se guiar de volta para debaixo dos lençóis.
- Fala-me de ti – mantinha-a a presa nos seus braços fortes.
Havia uma estranha confiança, uma ligação intensa entre eles. E a conversa discorreu.


"Procura a Maravilha" =)

5 comentários:

  1. Gosto da forma como usas os adjectivos, tornas a descrição mais rica e fazes com que a história pareça verosimil. Quanto a este texto propriamente dito, bem, é o meu preferido, gosto da forma como os acontecimentos fluem sem forçares palavras.

    10 cool points for you

    =* big kiss

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  2. Há muito tempo que não lia nada tão bonito. Sinceramente. Não tenho o hábito de mentir quando gosto de alguma coisa. Simplesmente acho este texto uma das melhores coisas que li nos últimos tempos. As descrições, o sentimento, as palavras que são despejadas de forma natural.. Enfim, perfeito.

    Beijinho*

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  3. Sofy, sua porno! Gostei muito. Desperta sentimentos que nem me lembrava que tinha.
    Bom trabalho, sinceramente!

    Pergunta indiscreta... tanto amor nos textos... é devido àquela situação que te encontras? :$

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  4. Uau! Adoro a forma como escreveste este texto, como descreves cada cena,cada pormenor... torna-o super interessante de ler e despertou-me a curiosidade, gostava de saber a continuação da história...
    Continua, aproveita este dom ;)))

    um grande beijinho duma amiga

    Sara Borrega

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