segunda-feira, 21 de junho de 2010

É como acordares de um sonho. De um sonho bom. É aquela sensação de te aperceberes que… acabou! Não vale a pena invocares. Não vais voltar a sentir. Podes lembrar-te das sensações… Se bem que o mais provável é que até acabes por moldá-las um pouco de encontro aos teus interesses. E sentes que não podes voltar atrás. Sentes, sobretudo, talvez, uma certa tristeza pela ilusão se ter desfeito, por te teres apercebido que foi um sonho e que por mais que o chames até ti não consegues tê-lo de volta e, em boa verdade, nunca o tiveste realmente. E sente-lo desvanecer…até que se apaga totalmente…
A única diferença é que não foi um sonho. Foi real. Existiu e tu sentiste-o. Não imaginaste as sensações, não invocas um sentimento abstracto. Esteve lá. Ele esteve lá. Amaste, riste, beijaste, choraste, tocaste, sentiste, brincaste, partilhaste, tremeste, vibraste… E ele esteve lá. E era o motivo pelo qual sentias tantas coisas e tantas coisas ao mesmo tempo. E depois acabou. E tal como um sonho bom que tentas agarrar mantendo os olhos fechados, fazes um esforço para não te desligares de tudo o que sentiste, de tudo o que te fazia sentir viva e te dava um significado à coisa mais ínfima!
Tentas agarrar-te. Mas é inevitável que a lembrança esmoreça, que o tempo passe e minimize a importância. E é natural que ao longo do dia – ao longo da vida – vás invocando as imagens, os pensamentos, as emoções… podes até sentir-te como se revivesses o momento… mas vai-se desintegrando, quase imperceptivelmente. E quando dás por ti, a própria invocação já quase não tem sentido, já não sabes porque procuras essa imagem e raramente ela te surge de forma espontânea. “É o tempo”, diz-se, “o tempo cura tudo”. Mas sentes um vazio… e tens de o preencher, mesmo que para tal procures as emoções mais fortes… Que doem. Ou então… tens um novo sonho bom…
Algumas feridas sararão mais lentamente…ou nunca… só o tempo dirá… Mas também se diz que não há como o primeiro amor. Parece-me que as feridas desse serão as mais difíceis de passar.
“O tempo cura tudo”…incluindo o vazio do fim de uma ilusão?


Dobrou a folha em quatro e pô-la no bolso das calças.
Apanhou um táxi e dirigiu-se ao local onde o vira partir. Ajoelhou-se na terra e reviveu a emoção da despedida enquanto cavava um pequeno buraco na terra e escondia debaixo dela a sua última carta.
Suspirou, secou os olhos com as costas da mão suja e ergueu a cabeça, deixando-se embalar pelos raios quentes do crepúsculo.
“Agora basta!” Sussurrou. E seguiu para a vida, sem olhar para trás.

"Procura a Maravilha"...

1 comentário:

  1. O meu obama morreu hoje (para os alheios era o meu cão). e agora fizeste-me chorar com este texto. És grande míuda :)

    ResponderEliminar